Eu no quarto do hospital, trabalhando... |
Eu estou aqui, sentada, esperando que uma função muito básica e natural dos nossos organismos aconteça. Mais uma vez o universo me ensina que no fim, tudo acaba em cocô! Uma de minhas clientes idosas... As novidades do dia são as fraudas e a inabilidade de se levantar e ir até o banheiro. As dificuldades são as fraudas e a inabilidade de se levantar e ir até o banheiro... E por mais que o quadro estivesse progredindo desde o dia 22, e eu sabia que este dia ia chegar, tenho a péssima mania de achar que milagres acontecem. Enfim... Sei lá, vai ver que Deus é Corintiano. Faz gol aos 46 minutos do segundo tempo...
Eu saí de casa atrasada. Acordei cedo, e tomei meu banho, forcei uma amizade para ver se as minhas necessidades fisiológicas saíam todas - viu como tudo é sobre cocô -, mas aparentemente meu intestino manda em mim. Ele e minha bexiga, na verdade. Eles funcionam quando querem funcionar. Minha bexiga se mancomunou com minha falecida mãe. Só falta gritar, por volta das oito da manhã: 'tá pensando que isso é albergue?' Minha mãe falava isso quando eu acordava às onze da manhã, com a maior cara amassada, depois de ter passado a noite na esbórnia da internet. Eu nunca entendi o comentário, já que os albergues que conheço todos tem hora para servir café da manhã,e não é às onze... Enfim...
Eu não costumava ter problemas com a bexiga na adolescência. Bom, minha médica discorda. Ela diria que agora eu tenho um órgão que funciona adequadamente, pois o certo é ir ao banheiro quando se tem vontade. Antes eu conseguia segurar, e nem me incomodava com isso. Bom, eu achava que não me incomodava... Aí fui nessa médica uma vez, reclamando de incômodo na área da pélvis, e sonolência, e queda excessiva de cabelo, e outras coisinhas assim, e a médica juntou tudo e chegou à conclusão que eu tinha uma infecção urinária. Nunca achei que coca-cola, chá mate e chocolate fossem tão intoxicantes - hehe. Aí veio a receita para melhorar: muita água e não segurar o xixi. E aí acabaram-se as minhas manhãs de domingo na cama. A bexiga não deixa eu permanecer muito tempo lá.
Mas a danada esqueceu de passar o memorando para o intestino. Esse continua como antes. Não tem pressa pra nada. Faz o serviço dele com calma e excelência. O caso é que não sou adolescente há bem uns vinte anos - nossa, velhice -, e com a idade vem o trabalho, e a responsabilidade de pagar suas próprias contas. Aí você combina com o corpitcho que quando o despertador tocar você terá lá uns quinze minutos entre tomar café e banho, tempo suficiente para tudo se colocar em funcionamento, antes que você se troque, se perfume, se arrume todinha e saia correndo, para não perder o busão passando no ponto. Mas a bexiga tem prioridade. O despertador toca, e vem um súbita e desesperada vontade de fazer xixi. Beleza... Passamos por isso numa boa. Mas aí vem os 15 minutos, e mais 30, tempo em que mulheres se emperiquitam, e nada... Nada do intestino funcionar. Você tem hora pra descer, ir ao apartamento de uma outra cliente para alimentar os gatinhos que ela deixou para viajar, e nada... E quando você está em direção ao ponto de ônibus, rumando para o hospital aonde vai passar o dia convencendo alguém a usar frauda, aí dá aquela vontade louca de fazer um número 2... Logo após você descobrir que vai gastar uma grana extra para chegar ao hospital, depois que não conseguiu carregar o bilhete único. Não é legal?!? Tudo sempre acaba neles, os danados coliformes fecais.
E incluo neste meu raciocínio o fato de amanhã eu ter pagar cinquenta centavos a mais em cada condução que eu pegar, por que eu não sou estudante... Eu sou a pobre coitada que trabalha cerca de doze horas por dia, e passa mais duas horas num transporte público de péssima qualidade, e que paga impostos cada vez que respira nesta cidade bagunçada - estou falando de São Paulo... Claro que eu posso dispôr de mais um real por dia, de segunda a sábado. Por que três reais não eram suficientes para me empobrecer, aparentemente, e seguir com o plano do PT de tornar este um país socialista. Para que eu fique tão na merda - opa, falamos nisso de novo - quanto boa parte da população, foi preciso aumentar em 50 centavos o valor unitário da condução pública na cidade de São Paulo. Ainda bem que acredito em milagres, e acredito muito em mim, por que do contrário eu já teria cometido um harakiri. Mas que está muito complicado engolir esse aumento, quando prestamos atenção na péssima qualidade do serviço prestado, isso tá...
Mas a vida vai continuar, e eu espero que o trabalho continue me trazendo alegrias pessoais - não que eu fique feliz com a doença e velhice alheias, mas sim fico feliz quando consigo ajudar essas pessoas -, e um bocadinho mais dinheiro, por que para viver num país governado pelo PT, com inflação fungando no cangote, só se eu conseguir ganhar mais do que a dita cuja consome do meu salário...
JulyN.
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