Chris Rock em foto promocional da premiação.
Cortesia e E! Online.
|
Olá, amigos e amigas. Tudo belezinha com vocês? Espero que sim... Depois de algumas horas loucas ouvindo um tradutor em espanhol falar por cima de toda a premiação, aqui estou eu, depois de baixar e assistir apenas aos trechos das piadas do Chris, com som original, para poder avaliá-lo.
Primeiro deixa eu esclarecer que não tenho um histórico muito bom com Chris. Pra começar, nunca gostei do jeito ácido dele de fazer piada com as diferenças raciais, enquanto colocava muita pimenta em olhos alheios. Não acho que para protestar contra uma injustiça, você precise fazer outras. Esta era a minha opinião sobre ele, quando o conheci, novinho, começando a se destacar no universo do stand up. Passei a nutrir uma certa antipatia por ele por causa disso.
Antipatia essa que só aumentou quando ele foi convocado, no final dos anos 90 - não lembro a data exata - para apresentar um MTV Music Awards. Bacana, legal. Mas ele levou todo seu sarcasmo para a apresentação, e usou dele para ofender os artistas, quase que de uma maneira gratuita. Horrível. Lembro especialmente que na época A.J. Mclean, do Backstreet Boys, estava saindo de um longo período de recuperação do vício em bebidas, e esta informação era pública e notória. Todos os fãs e simpatizantes - meu caso - aplaudindo o esforço que ele tinha feito, e a coragem que a banda teve em ir à público, numa tentativa também de alertar aos jovens. Bacana, muito bom mesmo. Ninguém é perfeito. Os heróis não são os que fazem tudo certo. São os que batalham pra corrigir seus erros, e conseguem.
Aí, depois que a banda ganhou um prêmio, volta Chris Rock ao palco e faz uma piada muito idiota sobre convidar A.J. para tomar uma champanhe e comemorar. Ele falou mais algumas groselhas à respeito disso, sobre os viciados em álcool, e foi extremamente julgador e injusto. E foi aí que minha antipatia por ele cresceu demais.
Anos - literalmente - se passaram, acho que Chris deve ter recebido algumas críticas mais furiosas, e foi refinando seu número. O grande pulo do gato, pra me fazer aceitá-lo melhor foi a série 'Todo Mundo Odeia o Chris', aonde ele retrata sua infância. O principal, em minha humilde opinião, está lá. Seus pais deram muito material enquanto ele crescia pra ele escrever Julius e Rochelle, de uma forma tão humana, e tão identificável com todo mundo que cresceu nos anos 80, que, apesar da série contar as aventuras dele, todos concordam que as estrelas do show são os atores Terry Crews e Tichina Arnold, respectivamente o pai e mãe de Chris na série.
De repente estávamos falando de um ser humano deveras inteligente em suas observações, deveras político, deveras bem criado por pais honrados, precisando só colocar um filtro na boca. E não sei se foram as porradas da vida, mas Chris foi de fato polindo suas piadas. Ficou mais fácil gostar dele. E ficou impossível não amar o filho de Christopher Julius Rock II depois de assistir ao episódio de Inside the Actors Studio em que ele é entrevistado. Chris fala de seu pai com um amor, com um respeito e com uma reverência que, juntamente à bela atuação de Terry Crews na série, mesmo sem conhecer o homem de fato, passamos a amá-lo, e amar tudo que vem dele. Incluindo Chris Rock!
E foi assim que passei a gostar desse cara que faz piadas sobre racismo, acentua bem os conflitos neste campo, mas que, ao mesmo tempo, com o passar dos anos, ganhou uma imensa sabedoria de observar antes de falar, e de falar para causar, em boa parte do tempo, mudanças positivas em seu entorno. Sem deixar a piada de lado, claro.
E foi isso que vi no Oscar deste ano. Chris, ao invés de declinar o convite de apresentar, como muitos de seus colegas de cor urgiram para que ele fizesse, compareceu, e passou a noite adocicando este conflito. Em seu monólogo, inteligentemente, deixou claro que Hollywood é um reflexo do que acontece na sociedade. Houve outros anos em que negros não foram indicados, ele ressaltou. São 88 anos de Oscar, e poucos negros ganhadores. Por que só agora reclamam? Com muitas piadas, salgando um pouquinho no sarcasmo de vez em quando, ele foi levando a festa, mostrando as várias nuances desta polêmica, e como, de fato, foi criada uma situação agora, com elementos que sempre estiveram lá. Ponto para ele.
Apesar de toda essa polêmica e dele ser Chris Rock, a noite foi agradável, ele foi agradável, e arrisco-me a dizer, pela primeira vez, que não me importaria em tê-lo de novo lá, no ano que vem. Se ele não tiver sido morto pelo pessoalzinho do Suge Knight, claro... Refiro-me às piadas que ele fez durante a noite referentes ao magnata da música. Magnata este que é um perigo e está preso aguardando julgamento por assassinato. Detalhe, ele é negro... E Chris também tocou nesse assunto importante. Quer ser indicado ao Oscar? Pára de roubar e matar e faça filmes... E, aos empresários do cinema brancos: queremos ser indicados, então nos contrate. Ele apontou que para que um negro chegue ali, indicado, é preciso antes ter sido contratado para fazer filmes.
Ponto pro Chris, achei até que ele foi melhor que a Ellen em quebrar o gelo com os astros, com a brincadeira dos biscoitos das escoteiras - ele botou um grupo de escoteiras vendendo biscoitos para os astros -, e acho que ele merece aplausos, tapinhas nas costas e um 'volte ano que vem'. Quem sabe até lá, não teremos alguns indicados negros nas categorias de atuação?
JulyN.
0 comentários:
Postar um comentário