Para  começar este texto, que acho eu, irá lançar uma daquelas correntes do  bem (assim eu espero), preciso já voltar no tempo. O assunto aqui, na  verdade, é a Bienal do Livro. Ou teria que ser... Enfim...   
Há  quatro anos, eu e minha amiga fomos à Bienal do Livro, em seu último fim  de semana. Loucura total! O local estava abarrotado. Muita gente...  Andamos com dificuldade e vimos coisas com dificuldade... É claro que  uma parada obrigatória é a editora Panini,  especializada em revistas em quadrinhos. É que minha amiga é muito fã  dessas coisas. O que eu não sabia até então é que ela era muito fã de Maurício de Sousa. Descobri ali, naquele momento, de um jeito bem peculiar...
Primeiro...  Quem é Maurício de Sousa? Bom... Pra quem esteve em outro país, outro  universo, a explicação é simples, e não dá a dimensão que esse nome  carrega. Ele é um cartunista. Autor da ‘Turma da Mônica’, celebre  conjunto de personagens que toda criança brasileira lê!!! Não vou  entrar em detalhes, por que seria necessário um post só sobre ele para  esmiuçar a sua biografia. O caso é que ele é adorado por zilhões de fãs e  admiradores de seu trabalho... Incluindo minha amiga. 
Aí,  estávamos lá na Panini, e descobrimos, por uma fila gigantesca que já  se fazia em volta do stand, que ele estaria lá no fim daquela tarde para  autografar seu livro novo, comemorativo dos cinqüenta anos de ‘Turma’.  Aí, fomos procurar saber se podíamos entrar na fila, e descobrimos que  todos que estavam lá tinham algo em comum: uma senha... Tentamos  conseguir uma, mas elas já estavam esgotadas. 
Não  lembro o que aconteceu depois disso, por que um ato incomum chamou mais  atenção: minha amiga começou a chorar! Ela realmente estava chorando  feito uma fã de New Kids on the Block na porta do estádio, sem ingresso para o show. E aí, enquanto eu a consolava, ela explicou sua adoração pelo autor... 
Nestas  ocasiões, eu nunca choro e desisto. Duas coisas que eu não faço. Nós  estávamos lá! Ele estaria lá! Minha matemática se voltou para a equação  de fazer essas duas coisas acontecerem juntas! A primeira coisa que  pensei foi em ficar lá, por perto, e esperar a sessão de autógrafos  acabar. Talvez na saída dele, se fôssemos espertas, conseguíssemos  alguma coisa. Era uma boa ideia. E assim ficamos rondando a fila como  dois urubus!!! 
Mas  minha tática não garantia nada. Precisávamos de algo mais certo. Uma  senha... Que não tínhamos... Hehe E aí eu virei pra minha amiga, com uma  daquelas idéias mais toscas ainda, e pedi que ela continuasse  chorando... “Vou pedir pra alguém da fila, com senha, pra deixar você  entrar junto. Mas você tem que convencer!”
À  princípio ela não acreditou que eu teria coragem. Rondamos a fila mais  um pouco, e eu puxei conversa com duas meninas que pareciam animadas,  felizes e eram muito simpáticas. Pré-adolescentes... Com seus livros  novos e uma senha em punho. E   aí eu usei da minha cara de pau para fazer o pedido... Expliquei que  minha amiga era muito fã e estava muito triste, por que não soubemos  antes que ele estaria lá. As meninas prontamente concordaram em nos  ajudar. Minha amiga passou pro outro lado do cordão de isolamento e em  troca eu prometi tirar fotos de todos com o Maurício, e enviar por  e-mail para elas. Conversando ali, enquanto esperávamos, criamos uma  história de que minha amiga era a tia delas, e que elas tinham todas  comprado os livros juntas, e por isso tinham uma senha só para três  pessoas. Mas uma delas ainda falou: “Se ele só quiser autografar um, a  gente deixa ser o dela. Ela é mais fã!”
Naqueles momentos que passamos com as duas meninas na fila – vocês sabem quem são – as lágrimas de tristeza deram voz às de emoção. Eu e minha amiga percebemos o poder e a magia de Maurício de Sousa. Em que lugar do mundo coisas assim aconteceriam??? É claro que a magia não teria efeito em pessoas com os corações de pedra, e por isso aproveitamos para agradecer às duas meninas mais uma vez. Aquele foi um dos momentos mais bacanas de nossas vidas, e vocês foram responsáveis por isso.
Naqueles momentos que passamos com as duas meninas na fila – vocês sabem quem são – as lágrimas de tristeza deram voz às de emoção. Eu e minha amiga percebemos o poder e a magia de Maurício de Sousa. Em que lugar do mundo coisas assim aconteceriam??? É claro que a magia não teria efeito em pessoas com os corações de pedra, e por isso aproveitamos para agradecer às duas meninas mais uma vez. Aquele foi um dos momentos mais bacanas de nossas vidas, e vocês foram responsáveis por isso.
Esperar  em pé na fila que parecia não ter fim, depois de passar o dia andando  pela bienal não é fácil. Mas acreditei que estava ali por uma boa razão.  Só não imaginava o que viria no momento em que minha amiga estivesse  com Maurício. Aqueles minutinhos preciosos... Ela o abraçou com força,  chorou de emoção, ganhou seu autógrafo e um desenho na capa do livro.  Pura emoção... Quando saiu, estava em alfa. Disse  que falou algo ao ouvido dele: “Aprendi a ler com a Turma da Mônica!” E ele teria dito: “Que Bom!”
Eu  fiquei fotografando do lado de fora, emocionada com o sorriso  convidativo e o carinho daquele homem que já tem tudo, não precisaria  fazer mais nada... Mas está lá, todo ano, recebendo o amor das mais  variadas pessoas, e construindo os sonhos de quem ainda tem uma vida  pela frente. Sim... Por que é exatamente isso que ele faz!!!
Dois  anos depois, lá estávamos nós de novo, na Bienal. Eu marquei a data que  iríamos. Desta vez fui esperta. Marquei para o primeiro fim de semana.  Não queria ter que ficar esbarrando nas pessoas desta vez. E eis que  quando fui ligar para a minha amiga, para confirmar o horário de  encontro no metrô, ela, contente, me diz que eu escolhi o dia certo:  “Maurício de Sousa vai estar lá! E desta vez teremos uma senha!” Esta  frase concretizou a aventura de perseguição ao pai da Mônica, por que  este seria nosso terceiro encontro – entre uma bienal e outra houve uma  sessão de autógrafos numa livraria aqui em São Paulo , e nós também fomos.
Para  pegar a senha, era preciso chegar cedo. E foi o que fizemos. Corremos  para a Panini antes de fazer qualquer outra coisa. Compramos um novo  livro que estava sendo lançado, e obtivemos a tão sonhada senha! Só  depois disso fomos passear pelo Anhembi.
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| Nosso doutor fazendo graça. | 
Enfim...  Ele também olhou coisas que até Deus dúvida, apesar de muitos  acreditarem ser a palavra do próprio, - sou viciada em Bíblias, e não por  seu cunho religioso - para acompanhar a mim e a minha amiga.  Conversamos muito, folheamos muitos livros, fizemos um piquenique... Um  dia agradabilíssimo. E já estaria bom assim, sem que Maurício de Sousa  precisasse aparecer.
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| Então, né? Levamos um 'menino'. As fotos foram assim! | 
Mas  ele veio ser a cereja do bolo! Uns quarenta minutos antes do indicado  para sua chegada, fomos para a famigerada fila da Panine. Munidos de  senha (haha)!!! Os três cansados de tanto andar, nosso amigo doutor  caindo de sono (vida de aluno de medicina não é fácil), mas todos  felizes em terminar o dia ali, naquele universo tão encantado, cheio de  esperança, onde as crianças eram maioria.
Difícil  colocar em palavras o que eu sinto nessas situações. Tem uma energia  diferente. Eu fiquei imaginando se Justin Bieber ia causar tanta comoção  com sua presença. Vi crianças passando pela fila desoladas por que não  tinham senha... Vi mães tentando convencer seus filhos que tinham que ir  embora. Nada disso as tirava dali. Todas queriam ver O PAI DA MÔNICA!  Num dado momento um menino passou por nós. Em idade de alfabetização,  com uma revistinha da Mônica na mão, chorando. Eu e minha amiga ouvimos  quando a mãe parou, o abraçou e o consolou... Ele estava sem senha. E  chorava um choro sentido... Eu estava de costas para ele. Mas me virei e  ofereci deixá-lo ficar com a gente na fila, sem nem perguntar à minha  amiga. Mas ela concordou prontamente.
Foi  mágico de novo! Ele passou para o outro lado do cordão, nos  apresentamos, e dissemos que ele tinha que fingir ser o sobrinho  da minha amiga, para que ninguém encrencasse com a entrada de duas  pessoas. Ele não tinha o livro que estava sendo lançado. Mas minha amiga  disse que ia tentar conseguir o autógrafo na revistinha dele.
A  mãe do menino então explicou que a adoração dele vinha do fato de estar  no comecinho da alfabetização e de ficar todo empolgado com a  possibilidade de aprender a ler através dos gibis da Mônica. O pai do  menino veio e bronqueou com ele, por chorar... Nós tentamos dar uma  aliviada... Família normal, bonita, muita gente em volta. Talvez  até por isso o menino tenha nos cativado. Por ser só um menino, simples, bacana, muito bem educado.
Desta  vez deixei o namorado da minha amiga encarregado das fotos. Ele é  alto... Teria facilidades... Eu fui para a porta por onde eles sairiam, e  fiquei esperando. A estrutura onde Maurício fica todo ano é de vidro.  Quem não tem senha pode ficar lá em volta para vê-lo. E aí eu presenciei  a coisa mais fantástica... Crianças se revezavam no vidro, perto de  onde eu estava, lambendo aquela vitrine como se fosse de doceria.  Suspiravam e olhavam com carinho para aquele homem. Era muita energia  positiva. Difícil mesmo explicar o brilho nos olhos daquela garotada.  Menininhas chorando por que não iam poder entrar, pais tentando arrastar as crianças do local... Ah, como eu queria ver todos ali entrando para ter  seu momento com Maurício. 
Uma  menininha, com uns cinco anos, mais ou menos, chegou no vidro, eu dei  passagem para ela ver melhor (minha posição era privilegiada), e ela  exclamou para a mãe: “Olha, mamãe! Que lindo o PAI DA MÔNICA!” Ah!!! Como  eu queria ter colocado aquela menininha pra dentro...
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| Minha amiga em seu momento. | 
Quando  minha amiga saiu, com nosso pequeno convidado, trouxe uma novidade.  Como eu não tinha prestado atenção lá dentro (estava mais concentrada  nas crianças) não vi o que aconteceu. Maurício assinou o livro de minha  amiga achando que era do menino. Colocou o nome dele. Minha amiga  avisou, mas logo depois disse não haver problemas. Ela daria o livro pra  ele... Mas Maurício não se contentou: “Não, não está tudo bem!” Pediu  que um dos funcionários ali pegasse outro livro na Panini, e aí sim,  autografou para ela. Esse segundo livro foi ofertado, e ela não teve que  pagar por ele.
Estavam  todos em estado de graça no final. Que homem! Que classe! Que tudo! E  que bacana que uma criança viu isso de perto... Que exemplo! O menino  nos agradeceu, animado por ter ganhado um livro, e foi embora com sua  família.
Nós  três também fomos. Fila para pegar o ônibus que levava até o metrô...  Nossa! Não sei como tivemos forças!!! Estávamos mortos. E no paraíso,  por que tudo tinha sido bom, e o final tinha sido excelente. Essa cereja  foi colhida no Japão, com certeza!!!
JulyN









Nossa, adorei a reler essa história no blog. Fiquei arrepiada. Foi exatamente isso, mas sentir essas emoções só lá mesmo. Façam uma força, convidem seus amigos e vão à próxima Bienal. Bjos
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